Capitulo 5- Convites

Colegial. Não era mais o purgatório, agora era o inferno puro. Tormento e fogo… sim, eu tinha os dois.

Eu estava fazendo a coisa certa agora. Todos os pingos nos i’s e os traços nos t’s. Ninguém podia reclamar que eu estava evitando minhas responsabilidades agora.

Para deixar Esme feliz e proteger os outros, eu fiquei em Forks. Retornei para meu horário antigo. Cacei mais que o resto deles. Todo dia, eu ia para a escola e fingia ser humano. Todo dia, eu escutava cuidadosamente qualquer coisa nova sobre os Cullens - não tinha nada novo. A garota não tinha falado uma palavra de suas suspeitas. Ela só repetiu a história de novo e de novo - que eu estava ao lado dela e a tinha tirado do caminho - até que os ouvintes ficaram entediados e pararam de pedir mais detalhes. Não havia perigo. Minha ação precipitada não tinha machucado ninguém.

Ninguém além de mim.

Estava determinado a mudar o futuro. Não era a coisa mais fácil de se fazer, mas não tinha outra escolha com a qual eu podia viver.

Eu tinha pensado que aquele primeiro dia tinha sido o mais difícil. No final dele, eu tinha certeza que esse era o caso. Mas estava errado.

Estava amargurado, sabendo que tinha machucado a menina. Tirei conforto do fato de que a dor dela não era nada mais do que uma picada - só uma pequena ferroada de rejeição - comparada com a minha. Bella era humana, e ela sabia que eu era algo mais, algo errado, algo assustador. Ela provavelmente se sentiria mais aliviada do que magoada quando eu virasse meu rosto para longe dela e fingisse que ela não existe.

- Oi, Edward,- ela me cumprimentou no meu primeiro dia de volta a classe de biologia. A voz dela estava agradável, amigável, 180 decibéis desde a ultima vez que eu falei com ela.

Por quê? O que a mudança queria dizer? Ela teria esquecido? Decidiu que ela imaginou todo o episodio? Ela poderia possivelmente ter me perdoado por não cumprir minha própria promessa?

 

As perguntas estavam queimando como a sede que me atacava toda vez que eu respirava.

Apenas por um instante eu olhei nos olhos dela. Só para ver se eu podia encontrar respostas lá…

Não. Eu não podia me permitir nem mesmo isso. Não se eu fosse mudar o futuro.

Eu movi meu queixo devagar na direção dela sem olhar para longe da frente da sala. Eu acenei com a cabeça uma vez, e então eu virei meu rosto para frente…

Ela não falou comigo de novo.

Aquela tarde, assim que a escola terminou, meu papel também terminou, eu fui até Seattle como eu tinha feito um dia antes. Parecia que eu poderia agüentar a dor apenas levemente melhor quando eu estava voando ao longo do chão, transformando tudo a minha volta em um borrão verde.

Essa corrida se tornou meu habito diário.

Eu a amava? Eu não acho que era isso. Não ainda. A visão de Alice do futuro que eu tinha preso comigo, embora, eu pudesse ver quão fácil seria me apaixonar por Bella. Isso seria exatamente como cair: Sem esforço. Não deixar de amá-la seria o oposto da queda - como ser puxado de um penhasco, eu apoiei meu rosto sobre a mão, a tarefa foi cansativa, como se eu já não tivesse força mortal.

Mais de um mês se passou, e cada dia era mais difícil. Isso não fazia sentido para mim - me manter perto dela, para que as coisas fossem mais fáceis. Devia significar isso quando Alice disse que eu não desejaria, e não conseguiria ficar longe da menina. Ela tinha visto a escalada da dor. Mas eu podia lidar com a dor.

Eu não iria destruir o futuro da Bella. Se eu fosse destinado ao amor dela, e então ela não fosse evitar, esse era o mínimo que eu podia fazer?

Evitar ela era o máximo que eu podia agüentar; entretanto. Eu podia fingir ignorá-la, e nunca estar em seu caminho. Eu podia fingir que ela não me interessava. Mas se essa era medida, eu apenas faria de conta, e não seria real.

Eu ainda flutuava a cada respiração dela, cada palavra que ela dizia.

Eu aglomerava meus tormentos em quatro categorias.

Os dois primeiros eram familiares. O seu aroma e o seu silêncio. Ou, ao invés - assumir a responsabilidade por mim mesmo ao que ela pertencia - a minha sede era minha curiosidade.

A sede era o meu primeiro tormento. Eu tornei um hábito, agora, simplesmente não respirar na aula de Biologia. Mas é claro, sempre há exceções - quando eu tinha de responder a uma pergunta ou algo do tipo, e eu teria necessidade de falar usando meu fôlego. Cada vez que eu saboreasse o ar em torno da garota, que era o mesmo desde o primeiro dia - fogo e violência brutal e a necessidade desesperada de me livrar. Era mesmo um pouco difícil de agarrar a razão ou retenção nesses momentos. E, como no primeiro dia, o monstro estava prestes a rugir, tão perto da superfície…

A curiosidade era um dos meus constantes tormentos. Uma coisa que nunca saiu da minha cabeça: O que ela está pensando agora? Ao ouvi-la calmamente suspirar. Quando ela passava um dos dedos sobre o cabelo. Quando ela jogava o livro com mais força do que o normal. Quando ela chegava na aula tarde. Quando ela batia seu pé, impaciente, sobre o chão. Cada movimento que eu pegava na minha visão periférica era um irritante mistério. Quando ela conversava com os outros alunos humanos, eu analisava todas as palavras e seu tom. Será que ela dizia o que estava pensando, ou ela pensava no que iria dizer? Se isso soava para mim como se ela estivesse tentando dizer o que a sua audiência esperava, e isso me fez lembrar da minha família e de nossa vida diária da ilusão - nos éramos melhores do que ela estava sendo. Ao menos eu estava errado sobre isso, apenas imaginando coisas. Por que ela iria ter um papel a desempenhar? Ela era um deles - uma jovem adolescente.

Mike Newton era o mais surpreendente dos meus tormentos. Quem teria sonhado que um tão comum e entediante mortal poderia ser tão irritante? Para ser justo, eu deveria ter de sentir gratidão pelo entediante garoto; mais do que os outros, ele fazia a garota falar. Eu aprendi muito sobre ela através dessas conversas - eu ainda montava a minha lista -, mas contrariamente, a assistência de Mike com este projeto só me deixava mais irritado.

Eu não queria que Mike fosse o único a descobrir segredos. Eu queria fazer isso.

Ele nunca percebeu as pequenas revelações que ela fazia, seus pequenos discúidos.

Ele não sabia nada sobre ela. Ele criou uma Bella em sua cabeça, que não existia - uma menina tão comum como ele era. Ele não tinha observado a generosidade e bravura que a distingüia dos outros humanos, ele não conhecia a anormal maturidade das suas falas. Ele não percebia que, quando ela falava de sua mãe, ele falava de sua mãe como se ela fosse uma criança e não o contrário - amorosa, indulgente, um pouco divertida, e ferozmente protetora.

Ele não percebia a paciência em sua voz quando ela fingia interesse no caminho das conversas, e não adivinhava o que havia atrás de sua paciente bondade.

Embora nas conversas com Mike, eu fosse capaz de adicionar a qualidade mais importante para a minha lista, e mais reveladora de todas elas, tão simples como rara. Bella era boa. Todas as outras coisas somadas com tudo - agradável, discreta, altruísta, amorosa e corajosa - ela era cada vez melhor através do tempo.

Não me tornavam mais gentil com o garoto, no entanto. A maneira como ele ficava possessivo quando via a Bella - como se ela fosse feita para ele - me provocou quase raiva com o seu rude fantasiar sobre ela. Ele estava se tornando mais confiante de si mesmo, também, quando o tempo passou, ele considerou isso ao vê-la preferi-lo aos seus rivais - Tyler Crowley, Erick Yorkie, e sempre, esporadicamente, eu mesmo. Ele se sentava rotineiramente ao seu lado na mesa, conversando com ela, encorajado por seus sorrisos. Apenas educados sorrisos, eu disse a mim mesmo. Eu freqüentemente me pegava imaginando, entretido, rebatendo ele contra a parede da sala… É muito provável que ele não fosse se ferir fatalmente…

Mike muitas das vezes não pensava em mim como um rival. Após o acidente, ele ficou preocupado que Bella e eu fossemos criar vínculos a partir da experiência partilhada, mas obviamente teve o resultado oposto. Naquela época, ele ainda tinha ficado irritado que eu e Bella tínhamos deixado o seu grupo de atenções. Mas agora eu o ignorei perfeitamente como os outros, e ele progrediu complacente.

O que ela estava pensando agora? Será que ela gostava de ser o centro das atenções?

E, finalmente o último dos meus tormentos, o mais doloroso: A indiferença de Bella. Como eu havia ignorado ela, ela me ignorou também. Ela nunca tentou falar comigo novamente. Com tudo que eu sabia, ela nunca pensou em mim novamente.

Isso poderia me levar a loucura- ou até mesmo mudar minha decisão para alterar o futuro - exceto que ela às vezes me encarava como ela havia feito antes. Eu não a via para mim, como se eu não pudesse me permitir olhar para ela, mas Alice sempre nos advertia quando ela estava prestes a me encarar; Os outros estavam sendo cuidadosos com o conhecimento problemático da garota.

Aliviava um pouco a dor quando ela me olhava de longe de vez em quando. É claro que ela poderia estar imaginando que tipo de louco que eu era.

“Bella vai encarar Edward em um minuto. Pareça normal.” Alice disse uma terça-feira de Março, e os outros tomaram cuidado para gesticular e se mexer como um humano; ficar totalmente parado era um hábito da nossa espécie.

Eu prestei atenção para quantas vezes ela olhava na minha direção. Me agradava, apesar de não dever agradar, que a freqüência não diminuía conforme o tempo passava. Eu não sabia o que aquilo significava, mas me fazia me sentir melhor.

Alice suspirou. “Eu gostaria…”

“Fique fora disso, Alice,” Eu disse por baixo do fôlego. “Não vai acontecer”

Ela fez um bico. Alice estava ansiosa para formar sua amizade iminente com Bella. De uma forma estranha ela sentia falta da garota que ela nem conhecia.

“Eu admito que você é melhor do que eu pensei. Você tem seu futuro todo determinado e sem sentido de novo. Espero que você esteja feliz” Ela pensou.

“Faz bastante sentido pra mim.”

Ela fez um som impaciente de forma delicada.

Eu tentei a ignorar, estava muito impaciente para conversas. Eu não estava de bom-humor- mais tenso do que eu deixava qualquer um deles ver. Só Jasper sabia como eu estava, sentindo o stress ao meu redor com sua habilidade única de sentir e influenciar o humor das pessoas ao redor. Ele não entendia as razões por trás dos humores e - como seu estava constantemente em um humor ruim- ele ignorava.

Hoje seria um dia difícil. Mais difícil que o dia anterior, esse era o padrão.

Mike Newton, o garoto odiável com quem eu não podia me permitir virar rival, ia chamar Bella para um encontro.

O baile que as garotas escolhiam o par estava chegando, e ele esperava muito que Bella o chamasse. E que ela não havia feito nada que abalava a confiança dele. Agora ele estava desconfortavelmente preso - eu gostava do desconforto dele mais do que eu devia - porque Jessica Stanley tinha acabado de o chamar. Ele não queria dizer “sim”, esperando que Bella o escolhesse (e provar que ele era o vitorioso entre seus rivais), mas ele não queria dizer “não” e acabar perdendo o baile. Jessica, magoada pela sua hesitação e imaginando a razão por trás disso, estava tendo pensamentos raivosos contra Bella. Eu entendi o instinto melhor agora, mas só me fez mais frustrado quando eu não podia agir.

E pensar que tinha chegado a esse ponto! Eu estava totalmente fixado nos dramas da escola que um dia eu havia simplesmente ignorado.

Mike estava trabalhando na sua coragem conforme ele andava com Bella até a aula de biologia. Eu ouvi sua luta interna enquanto eu esperava eles chegarem. O garoto era fraco. Ele tinha esperado por essa festa de propósito, com medo de fazer seu afeto reconhecido antes dela ter mostrado uma preferência por ele. Ele não queria ficar vulnerável para uma possível rejeição, preferindo que ela desse aquele passo antes.

Covarde.

Ele sentou do nosso lado de novo, confortável com a familiaridade, e eu imaginei o som que seu corpo faria se batesse contra a parede oposta com força suficiente para quebrar a maioria dos seus ossos.

- Então - ele disse pra garota, seus olhos no chão. - Jessica me chamou para o baile de primavera.

- Isso é ótimo. - Bella respondeu imediatamente e com entusiasmo. Era difícil não sorrir conforme Mike se dava conta de seu tom. Ele estava esperando por consternação. - Você vai se divertir muito com a Jessica.

Ele refletiu sobre a resposta certa. - Bem… - ele hesitou, e quase desistiu. Então voltou ao trilho. - Eu falei pra ela que ira pensar sobre isso.

“Por que você faria isso?” ela perguntou. O tom dela era mais de desaprovação, mas ainda tinha uma pontada de alívio também.

O que aquilo significava? Uma fúria inesperada fez com que minhas mãos se curvassem nos meus punhos com força.

Mike não ouviu o alívio. O rosto dele vermelho - com a raiva que eu estava parecia um convite - e ele olhou para o chão de novo enquanto falava.

“Eu estava pensando….talvez você estivesse pensando em me chamar.”

Bella hesitou.

Naquele momento de hesitação, eu vi o futuro mais claramente do que Alice.

Ela talvez possa dizer sim para a pergunta implícita de Mike, talvez não, mas ainda assim, algum dia ela diria sim para alguém. Ela era adorável, intrigante e outros homens notavam isso. Se ela fosse se prender a alguém nesse grupo insalubre, ou esperasse para estar livre de Forks, o dia que ela diria sim chegaria.

Eu vi a vida dela como tinha visto no dia anterior - faculdade, carreira…amor, casamento. Eu vi ela de braços dados com seu pai, vestida de branco, seu rosto corado de felicidade conforme ela se movia com a marcha nupcial de Mendelssohn.

 

A dor era mais forte do que jamais tinha sido. Um humano teria que estar à beira da morte para sentir essa dor- um humano não sobreviveria a isso.

E não só a dor mas o ódio.

A raiva também doía de uma forma física. Mesmo que esse garoto insignificante não seja para quem Bella diga sim; Eu queria esmagar o crânio dele na minha mão, para deixar ele representar quem ela escolher.

Eu não entendia essa emoção - era uma mistura de dor e raiva e desejo e desespero. Eu nunca havia me sentido assim antes; não podia definir isso.

“Mike, acho que você devia dizer sim,” Bella disse de forma gentil.

As esperanças de Mike desapareceram. Em outras circunstâncias eu teria gostado mas eu estava preso no choque após a dor - e o remorso que a dor e a raiva tinham me dado.

Alice estava certa. Eu não era forte o suficiente.

Agora, Alice estaria vendo o futuro contorcido e revirando, ficando confuso de novo. Isso a agradaria?

“Você já chamou alguém?” Mike perguntou sóbrio. Ele deu uma olhada para mim, suspeitando pela primeira vez em um bom tempo. Eu notei que nunca tinha disfarçado meu interesse bem, minha cabeça estava inclinada na direção de Bella.

A raiva descontrolada nos pensamentos dele - raiva por qualquer um que ela preferisse - de repente deu um nome ao meu sentimento.

Eu estava com ciúmes.

“Não” Ela disse achando um pouco de graça. “Eu não vou mesmo.”

Por trás de todo o remorso e raiva, eu senti alívio nas palavras dela. De repente eu estava considerando os meus rivais.

“Por que não?” Mike perguntou de uma forma quase mal-educada. Me ofendia que ele falasse assim com ela. Eu me segurei.

“Eu vou para Seattle nesse sábado.” Ela respondeu.

A curiosidade não era mais tão viciante quanto antes - agora que eu estava mais concentrado em descobrir as respostas e tudo mais. Eu saberia os porquês e quando dessa revelação.

O tom de Mike continuou grosso. “Você não pode ir outro dia?”

“Desculpa, não.” Bella foi mais brusca agora. “Então você não deveria fazer Jess esperar mais - È falta de educação.”

A preocupação dela com os sentimentos de Jessica diminuiu as chamas do meu ciúme. Essa viagem para Seattle me parecia suspeita como uma desculpa para dizer não - ela recusou puramente por lealdade a amiga? Ela realmente queria poder dizer sim? Ou os dois palpites estavam errados? Ela estava interessada em outra pessoa?

“…, você tem razão.” Mike murmurou, com a moral tão baixa que eu quase senti pena dele. Quase.

Ele parou de olhar para ela,  cortando minha visão do rosto dela na sua mente.

Eu não podia tolerar isso.

Eu virei para ler a expressão dela por mim mesmo, pela primeira vez em mais de um mês. Foi um alívio poder me autorizar a fazer isso, como respirar depois de muito tempo embaixo d’água era para humanos.

Os olhos delas estavam fechados e suas mãos de cada lado do seu rosto. Seus ombros curvados pra frente de forma defensiva. Ela balançava a cabeça suavemente, como se ela estivesse tentando parar de pensar em alguma coisa.

Frustrante. Fascinante.

A voz do Sr.Banner a tirou da sua reflexão e seus olhos abriram devagar. Ela olhou para mim imediatamente, talvez sentindo que eu a olhava. Ela me olhou nos olhos com a mesma expressão perplexa que tinha me perseguido.

Eu não senti remorso ou culpa ou raiva naquele segundo. Eu sabia que eles reapareceriam, logo mas por hora era até um pouco excitante. Como se eu tivesse ganhado e não perdido.

Ela não parou de me olhar mesmo eu encarando-a com uma intensidade imprópria, tentando sem sucesso ler seus pensamentos por seus olhos castanhos. Eles estavam cheios de perguntas ao invés de respostas.

Eu podia ver a reflexão dos meus próprios olhos, vi eles pretos com sede. Já haviam passado quase duas semanas desde a última vez que eu cacei; isso não era o modo mais seguro de sucumbir a minha vontade. Mas a escuridão não pareceu assustar ela. Ela não olhou em outra direção e uma leve cor vermelha começou a aparecer na sua face.

O que ela estava pensando agora?

Eu quase perguntei em voz alta, mas quase ao mesmo momento Sr.Banner chamou meu nome. Eu ouvi a resposta certa na sua mente e olhei rapidamente na sua direção.

Eu respirei rapidamente. “Ciclo de Krebs.”

A sede coçou minha garganta - fazendo meus músculos mais tensos e enchendo minha boca com veneno. - eu fechei os olhos, tentando me concentrar apesar do desejo pelo sangue dela que pulsava dentro de mim.

O monstro estava mais forte do que antes. O monstro estava reaparecendo. Ele se juntou a esse futuro que dava a ele uma chance de 50% que ele desejava de maneira cruel.

O terceiro futuro incerto eu havia tentando construir por força de vontade apenas tinha sido destruído - pelo ciúmes, acima de tudo. - e por isso o monstro estava cada vez mais perto de ter seu desejo.

O remorso e a culpa me queimaram assim como a sede e se eu tivesse como produzir lágrimas elas estariam se formando agora.

O que foi que eu fiz?

Sabendo que a batalha estava perdida, não parecia ter mais uma razão para resistir o que eu queria; eu virei para encarar Bella novamente.

Ela havia se escondido no próprio cabelo, mas eu podia ver que seu rosto estava totalmente vermelho agora.

O monstro gostou daquilo.

Ela não me olhou novamente, mas mexeu de forma nervosa em uma mecha de cabelo. Seus dedos delicados, seu pulso delicado - eles eram tão frágeis, parecendo que só minha respiração podia os romper.

Não, não, não. Eu não podia fazer isso. Ela era muito frágil, boa demais, preciosa demais para merecer esse destino. Eu não podia permitir que minha vida colidisse com a dela, destruir a vida dela.

Mas eu não podia ficar longe dela também. Alice estava certa sobre isso.

O monstro dentro de mim se manifestou, frustrado conforme eu pensava.

Minha breve hora passou muito rápido. O sinal tocou e ela começou a arrumar as coisas sem olhar para mim. Isso me decepcionou mas eu não podia esperar nada menos. O jeito que eu tinha a tratado desde o acidente foi inaceitável.

“Bella?” eu disse, sem conseguir me segurar. Minha força de vontade despedaçada.

Ela hesitou antes de olhar pra mim; quando ela virou sua expressão estava defensiva e desconfiada.

Eu relembrei a mim mesmo que ela tinha o direito de desconfiar de mim. Ela devia.

Ela esperou que eu continuasse mas eu só olhei para ela lendo sua expressão. Eu respirava forte em intervalos regulares, lutando contra minha sede.

“O que?” Ela finalmente perguntou. “Você está falando comigo novamente?” Havia  um pingo de ressentimento em sua voz, como sua raiva aparecendo. Isso me fez sorrir.

Eu não tinha certeza de como responder a pergunta dela.Eu devia falar com ela de novo?

Não. Não se eu pudesse evitar. Eu tentaria.

“Não, na verdade não.” Eu falei para ela.

Ela fechou os olhos, o que me frustrou. Eu me permiti o máximo para tentar acessar os seus sentimentos. Ela respirou fundo sem abrir os olhos. Seu maxilar estava rígido.

Com olhos fechados, ela falou. Certamente não era o jeito normal de conversar. Porque ela fazia isso?

“Então o que você quer, Edward?”

O som do meu nome nos lábios dela fez algo estranho ao meu corpo. Se meu coração batesse, estaria acelerado.

Mas como responder para ela?

Com a verdade, eu decidi. Seria o mais sincero que eu podia ser com ela a partir de agora. Eu não queria merecer sua desconfiança, mesmo omitir a verdade era impossível.

“Me desculpe.” Eu falei. Era a melhor verdade que ela poderia saber. Infelizmente o único jeito seguro de me desculpar era de maneira trivial. “Eu estou sendo muito mal educado, eu sei. Mas é melhor assim, acredite.”

Seria melhor se eu pudesse continuar sendo mal educado. Será que eu conseguiria?

Os olhos dela abriram, sua expressão ainda cautelosa.

“Não sei o que você quer dizer.”

Eu tentei o máximo que podia por um aviso entrelinhas para ela. “… melhor para nós não sermos amigos.” Certamente ela podia sentir a verdade. Ela era esperta. “Confie em mim.”

Os olhos dela se estreitaram e eu lembrei que eu havia dito as palavras para ela antes - logo antes de quebrar a promessa. Eu me encolhi quando ela travou o queixo - ela claramente lembrava também.

“… uma pena você não ter descoberto isso antes.” Ela disse brava. “Você poderia ter evitado todo esse arrependimento.”

Eu a encarei em choque. O que ela sabia dos meus arrependimentos?

“Arrependimento? Arrependimento pelo que?” Eu exigi.

“Por não ter deixado aquela van idiota me esmagar!” ela respondeu bruscamente.

 

Eu congelei, entorpecido.

Como ela podia pensar isso? Salvar sua vida tinha sido a única coisa certa que eu fiz desde que a conheci. A única coisa de que não me envergonhava. A única coisa que me deixava feliz em existir. Estive lutando para mantê-la viva desde o primeiro momento em que senti seu cheiro. Como ela podia estar pensando isso de mim? Como se atrevia questionar meu único ato de bondade em toda essa bagunça?

- Acha que me arrependo de ter salvado você?

- Eu sei que se arrepende.

A avaliação dela das minhas intenções me deixou fervendo de raiva. - Você não sabe de nada.

Como sua mente funcionava de um jeito confuso e incompreensível! Ela não devia pensar do mesmo modo que os outros humanos. Essa devia ser a explicação por trás de seu silêncio mental. Ela era completamente diferente.

Ela virou o rosto, batendo os dentes. Suas bochechas estavam vermelhas, com raiva de novo. Ela juntou os livros em uma pilha, os colocou nos braços e marchou na direção da porta sem encontrar meu olhar.

Mesmo irritado como eu estava, era impossível não achar seu ódio divertido.

Ela andou desajeitada, sem olhar para onde ia, e seu pé bateu no batente da porta. Ela tropeçou, e todas as coisas caíram no chão. Ao invés de se curvar para pegá-las, ficou parada, rígida, sem ao menos olhar para baixo, como se não tivesse certeza de que os livros merecessem ser recuperados.

Consegui não dar risada.

Ninguém estava aqui para me ver; eu fui rapidamente para o seu lado e juntei os livros antes que ela olhasse para baixo.

Ela se inclinou, me viu, e parou. Entreguei os livros para ela, tomando cuidado para que minha pele gelada não tocasse a dela.

- Obrigada. - ela disse numa voz fria, severa.

Seu tom trouxe minha irritação à tona.

- Não há de quê. - respondi no mesmo tom frio.

Ela se endireitou e foi para sua próxima aula.

Eu fiquei olhando até que não pudesse mais ver sua figura nervosa.

A aula de espanhol passou em um borrão. A Sra. Goff não questionou minha distração - ela sabia que meu espanhol era superior ao dela, e me deu liberdade - me deixando livre para pensar.

Então, eu não podia ignorar a garota. Isso era óbvio. Mas isso significava que eu não tinha outra saída a não ser destruí-la? Este não podia ser o único futuro disponível. Tinha que ter alguma outra escolha, algum equilíbrio. Tentei pensar em um jeito…

Não prestei muita atenção em Emmett até que a aula terminou. Ele estava curioso - Emmett não era muito intuitivo sobre os sentimentos dos outros, mas ele podia ver uma óbvia mudança em mim. Perguntou-se o que teria acontecido para tirar o insistente olhar de ódio do meu rosto. Ele lutou para definir a mudança, e finalmente decidiu que eu parecia esperançoso.

Esperançoso? Era assim que eu parecia por fora?

Refleti com a idéia de esperança enquanto andávamos para o Volvo, me perguntando sobre o que exatamente eu devia ter esperança.

Mas não tive que refletir por muito tempo. Sensível aos pensamentos dos outros sobre a garota como eu era, o som do nome de Bella nas cabeças dos meus… dos meus rivais, tive que admitir, chamou minha atenção. Eric e Tyler, tendo escutado - com muita satisfação - do fracasso de Mike, estavam se preparando para agir.

Eric já estava pronto, encostado na picape dela, de modo que ela não conseguisse evitá-lo. A aula de Tyler estava atrasada por causa de um trabalho, e ele estava desesperado para pegá-la antes que ela escapasse.

Isso eu tinha que ver.

- Espere pelos outros aqui, está bem? - murmurei para Emmett.

Ele me olhou, suspeito, mas então deu de ombros e acenou.

O garoto ficou louco, ele pensou, divertido com meu pedido esquisito.

 

Eu vi a Bella saindo do ginásio, e esperei ela passar de um lugar onde ela não me veria. Quando ela se aproximou da emboscada de Eric, eu fui para mais perto, andando num ritmo que me faria passar no momento certo.